Série de animação criada em Florianópolis mostra boi de verdade que nasce em pé de mamão

A paixão pelo desenho e pela animação, além da vontade de quebrar os paradigmas dos tradicionais desenhos animados, motivou a dupla Rodrigo Eller e Ricardo Peres a criar o 52 Estúdio e produzir a série “The Papaya Bull”.

Inspirados nas tradições de Florianópolis, como o Boi de Mamão, a série conta a história de duas famílias que moram em uma casa geminada porém são muito diferentes. O patriarca de uma dela é pescador, o outro é um grande inventor. Enquanto a casa do pescador continuou do mesmo tamanho, a do inventor não parou de crescer após sua grande invenção: uma escada para subir nos bois.

Moradores de uma ilha isolada, eles não sabem da existência de outro lugar no mundo. Por causa disso, essa civilização evoluiu de uma forma bem diferente. Lá, por exemplo, a tradição é que cada habitante tenha um boizinho nascido de um pé de mamão. Amigos fiéis e leais, como os cachorros são para nós, eles crescem e se desenvolvem assim como os seus donos.

“A série tem várias metáforas. Uma delas é: como nascem esses bois? Eles não se reproduzem. O que acontece é um seguinte: no centro da ilha tem uma lagoa e nessa lagoa, uma ilhota. Lá no centro tem um mamoeiro e uma vez por ano nasce um mamão. O mamão cai, quebra e todas as sementinhas caem na água. Cada sementinha é um boizinho e é nessa hora que começa a luta pela vida. Eles nadam do mar para a terra em busca da sobrevivência. Nem todos chegam até o final. Então, é uma lição de vida também”, conta Ricardo.

A dupla

Gaúcho, 45 anos, engenheiro e morador de Florianópolis há vinte anos, Ricardo conta que desde cedo sonhou em fazer uma série animada. “Há muitos anos eu pensei em fazer mais do que um desenho animado, mas sim uma oportunidade de passar alguns valores e alguns conceitos para um grande número de crianças. Nossa série não é simplesmente um desenho animado, é algo que consolida valores. O cerne dessa empresa é transmitir bons valores de uma forma legal, de uma forma cool, que a criança assista aquilo e reflita sobre”.





Já Rodrigo é paulista, tem 24 anos, e está se formando em Design de Animação na UFSC. Apesar da diferença de idade e de perfil, os dois se completam quando o assunto é animação. “A gente sempre gostou muito de ver desenho animado e percebeu que a partir dos 6 anos de idade não tinha mais desenho que instruísse, que falasse coisas legais. Só tinha aqueles desenhos nonsense, com violência, com monstros, com guerra. Nada que fizesse alguma diferença na vida das crianças, que aumentasse os valores dela”, diz Rodrigo.

A empresa

Para tornar esse sonho possível, a rotina inicial não foi nada fácil. Para conseguir dar os primeiros passos no projeto, os dois se reuniam após o expediente nas empresas onde trabalhavam e discutiam as ideias. Foram eles quem montaram o roteiro, criaram a essência da série e também desenharam e animaram os personagens.

Seis meses depois dessa rotina é que os dois resolveram abrir um escritório. Hoje, a equipe é formada por seis pessoas. Porém, apesar da grande evolução da empresa em tão pouco tempo, o mercado de desenho animado no Brasil ainda é muito restrito.

“O mercado de desenho animado é difícil em qualquer lugar do Brasil. Ele é muito novo aqui, infelizmente. Tem pouco incentivo, pouco curso. Muita gente que sabe isso é autodidata, compra livro, vai atrás. Muita gente não sabe que o Peixonautas é daqui”, lembra Rodrigo.

O futuro

Para Ricardo, o trabalho deles começa a ser valorizado fora do nosso país. “Nosso desenho começa a ser valorizado fora, para ser valorizado aqui. E isso acontece pois até mesmo nossos desenhos estão sendo feitos em uma plataforma internacional, tanto de software quanto de língua. Os nossos desenhos estão feitos em inglês, para depois ser dublado em português”, complementa ele.

Dessa maneira, a sincronia labial dos personagens está de acordo com o inglês e não com o português. “A gente nunca viu um desenho que tenha a sincronia certa, no português. Então, para a gente é normal ver o personagem mexer e não estar de acordo com a fala. Então a gente quis fazer isso, pois o mercado brasileiro ainda é pequeno perto dos outros países. Então a gente resolveu fazer para vender para fora”, diz Rodrigo.

Para a dupla, a grande meta do estúdio é um dia estar com a série em um grande canal de TV, atingindo 40 milhões de crianças. “A nossa ideia e passar boas ideias para 40 milhões de crianças para que elas se tornem 40 milhões de adultos mais legais e que vão fazer a diferença”, finaliza Rodrigo.

Fonte: De Olho na Ilha





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