Reeducandos do Presídio de Florianópolis voltam a ter contato com a cultura e a história do estado

Um encontro entre a história de grandes políticos do estado de Santa Catarina e a história dos detentos sentenciados do Presídio Masculino de Florianópolis. É o que proporciona o Projeto “Construindo”, promovido pela Fundação Catarinense de Cultura e a Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania, que foi retomado essa semana depois de 1 ano.

A história do projeto começou em 2009, quando Christiane Castellen, do Núcleo de Ações Educativas (NAE) do Museu Histórico de Santa Catarina percebeu um grupo de detentos limpando os muros do Palácio Cruz e Souza.

Foi nesse momento que ela se perguntou: “Por que eles não entram para conhecer o museu? Afinal de contas, arte e cultura são para todos”. Desde aquele dia, um novo projeto passou a ser construído – e continua sendo. Uma vez por mês, um grupo de 10 reeducandos vai até o Palácio Cruz e Souza, no Centro de Florianópolis, e fica em contato com a arte e a história do Estado.

Fuga interrompeu projeto

“Toda vez que a gente vem, vai aprendendo cada vez mais”, diz Joca*, que participa do encontro pela segunda vez. A primeira foi em 2011, no último encontro daquele ano. Já a segunda foi em 16 de outubro.

A distância entre um encontro e outro foi motivada pelo rompimento do projeto em 2011. A fuga de um dos detentos durante a visitação ao museu fez a secretaria interromper os trabalhos do projeto por um ano.



O “Construindo” só voltou a funcionar graças ao encontro promovido em São Paulo pelo Memorial da Resistência. Foi lá que Christiane, a qual já contava com a ajuda de Márcia Lisboa, sua colega do NAE, conseguiu apoio para que o projeto voltasse à ativa.

De novo



Foi assim que, nessa semana, Joca pôde voltar ao museu e tornar seus últimos meses na prisão um pouco mais fáceis. “Na situação em que a gente se encontra, qualquer novidade é legal. Eu tentei passar um pouco do que eu vi e de como foi o outro encontro, mas não tudo, né? Deixei um pouco para vocês, senão não tem graça”, conta ele, arrancando gargalhadas de todos presentes.

E, pela reação e curiosidade dos seus colegas, o passeio foi muito bom. Até mesmo questões como a acessibilidade foram levantadas pelos reeducandos ao subir as escadas do palácio.

Maurício era um dos mais curiosos e que mais prestava atenção. Ele está estudando para prestar vestibular em novembro e sabe que conhecer a história de Santa Catarina é muito importante para conquistar alguns pontinhos na prova.

Ao descobrir que as paredes do palácio foram feitas com óleo de baleia e que antigamente as pessoas tomavam banho apenas uma vez por semana, ele logo relaciona as novidades ao Presídio. “As paredes de lá também são feitas de óleo de baleia. E sobre o banho, muitas vezes a gente toma banho de balde ou de canequinha, pois lá não tem chuveiro. Não pode ter chuveiro. Só para a gente que está no semiaberto”, conta Maurício.

Troca de experiências

Essa troca de experiência entre os reeducandos e as promotoras do projeto modifica a realidade vivida pelos dois lados. Tanto de quem promove, quanto de quem participa.

Para o próximo mês, fica o gostinho de quero mais e a lembrança de ótimos momentos. Momentos como o de Christiane que, antes de os detentos irem embora, ouviu de Maurício as seguintes palavras: “Parabéns pela iniciativa e coragem. E eu não quero mais saber de coisa ruim. Não fiz mais nada de errado, só estou pagando pelo passado mesmo. Estou estudando, no final do ano eu me formo e vou fazer faculdade”.

*nesta reportagem, os nomes dos reeducandos são fictícios.

Fonte: De Olho na Ilha





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